segunda-feira, 6 de julho de 2015

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escrevi uma carta
e por algum motivo
nunca te mandei
guardei comigo
e recitei fragmentos 
em meio a conversas fúteis
e assuntos irrelevantes
será que você chegou a reparar?
entrei nesse jogo infantil
de querer me fazer entender
da maneira mais difícil
e eis que me deparo
com minha constante contradição
de algo que demando
e que no momento
me recuso a lhe entregar
- por ressentimento?
num movimento canibalístico
de comer os próprios dedos
me ponho a questionar
se sou eu quem deveria ceder
se a reciprocidade deveria ser da mesma natureza
se a atitude passiva é o bastante
se o toque vale mais palavras
muito se diz das palavras não darem conta
do que o sentimento diz
mas nunca se pensa o contrário
quando ações não acalentam tanto
quanto letras postas juntas
desse poder que elas têm
de publicar o que é privado
de fazer uso dessa ponte que existe
entre ouvido e coração
não rasguei a carta
lembro cada frase que lhe escrevi
lembro cada vez que lhe disse o conteúdo dela
e cada vez que me contive
- quantas vezes! - 
por qual motivo?
não saberia dizer 
sem soar como uma criança emburrada
insatisfeita
que acha que o mundo
gira em volta dela
marcas de cerveja no papel de carta
palavras escapam de vez em quando
um egocentrismo velado
de pensar que é dever do outro
ser como espero
num movimento de não seguir os próprios conselhos
varre-se tudo pra debaixo do tapete
e quando penso em expor isso tudo
você faz meu chão cair
faz-me ver o que não sai da tua boca
ainda assim
insisto
que troque os órgãos do sentido
vez ou outra
se possível.

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