domingo, 17 de agosto de 2014

[de depois]

e o que um dia era desgosto

vira confusão
é estranho demais
pensar em pessoas como veículos
veículos de desejos
desejos não sexuais
desejos de afeto
desejos de carinho
desejos do que não se constrói
do que se faz num toque
do que se faz num verbo
ou numa respiração qualquer
e no fim das contas
o desejo carnal por si só
é apenas carnal
e não satisfaz a alma
não enche os pulmões
não preenche a cabeça
e aquele questionamento
do que foi um dia
e se fora novamente
faz morrer por dentro
pois que não sei se será novamente
algum outro dia
não sei se ainda é busca pelo desejo
ou pela aceitação do que não se sabe possível
o dito imprevisível
não soa tão certo como se diz
e no meio do olho do furacão
é necessário ficar quieto por um tempo
pois que não há vento
e não se quer dar um passo
de volta para o caos dos cantos
revoltos e confusos novamente.

[de antes]

que desinteresse é esse

que me toma por inteiro
que me faz não querer amanhã qualquer
que sujeira é essa
que impregna no corpo
que banho nenhum tira
que coração nenhum esquece
que sujeito é esse
que não tem nome
que de repente some
que não quero mais saber
que vivência é essa
que esvazia
que não dá vazão
que não tem razão
que dia é esse
que começa sem pedir licença
que me obriga a abrir os olhos
que me tira da cama sem que eu queira
que desejo é esse
que a substância desperta mas
que não mata a ânsia
que não satisfaz a alma
que pessoa é essa
que me tornei de repente